A situação humanitária em Gaza atinge níveis alarmantes. Após semanas de bloqueio à entrada de ajuda humanitária, Israel autorizou a passagem de caminhões com suprimentos no último domingo (18). No entanto, até esta terça-feira (20), nenhum alimento havia sido efetivamente entregue à população, segundo as Nações Unidas.
Em entrevista à BBC, o diretor de Ajuda Humanitária da ONU, Tom Fletcher, alertou para uma tragédia iminente: “14 mil bebês podem morrer nas próximas 48 horas se não receberem comida e medicamentos.”
Apesar da entrada de 93 caminhões desde o fim de semana, a ONU afirma que a carga permanece retida por Israel e não chegou aos civis. O volume liberado até agora foi classificado pela organização como “insuficiente”, sendo necessário pelo menos 500 caminhões por dia para enfrentar a fome generalizada na região.
Enquanto isso, hospitais no sul de Gaza estão entrando em colapso. Ahmed al-Farra, diretor de pediatria e obstetrícia do Hospital de Maternidade al-Tahreer — parte do Complexo Médico Nasser — relatou à Al Jazeera que a situação é “insustentável e mortal para as crianças”.
“Nenhum suprimento médico chegou ao hospital. Estamos enfrentando muitas doenças provocadas pela desnutrição grave, falta de alimentos, leite e suprimentos básicos. Gaza precisa de quase 500 caminhões todos os dias para resolver o problema”, afirmou.
O Complexo Nasser está superlotado, principalmente após ataques israelenses destruírem o Hospital Europeu, forçando a evacuação de pacientes. “Temos a obrigação de continuar. Este é o nosso dever”, disse al-Farra.
A ofensiva militar israelense começa a gerar reações de aliados históricos. O ministro de Relações Exteriores do Reino Unido anunciou nesta terça-feira a suspensão de negociações comerciais com Israel e novas sanções contra colonos ilegais na Cisjordânia. A embaixadora israelense em Londres foi convocada para explicações.
No Brasil, o chanceler Mauro Vieira classificou a operação como “carnificina”. Segundo dados divulgados pelo Itamaraty, 90% da população de Gaza — cerca de 1,9 milhão de pessoas — foi deslocada. Até o dia 13 de maio, mais de 53 mil civis palestinos foram mortos, entre eles 15,6 mil crianças e 8,3 mil mulheres. Outros 120 mil estão feridos.
O governo brasileiro também informou que 12 brasileiros e familiares, incluindo seis menores de idade, foram retirados da Faixa de Gaza e levados para a Jordânia.
Enquanto a população de Gaza sofre com a fome, manifestantes israelenses têm tentado impedir o envio de ajuda. Segundo a Al Jazeera, ativistas se concentraram na passagem de Kerem Shalom, fronteira sul de Israel com Gaza, bloqueando a entrada de caminhões.
Uma das manifestantes, Reut Ben Haim, afirmou ser “injusto” enviar suprimentos enquanto o Hamas mantém reféns. “Não podemos ficar de braços cruzados enquanto esse mal aos nossos reféns continua”, declarou antes de ser presa.
Outro manifestante, Asriel Machlev, classificou o envio de ajuda como “suicídio nacional”. “Cada caminhão que entra prolonga a guerra. Estaremos aqui todas as semanas para impedir fisicamente essa manobra insana”, afirmou.